quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Sem alienação
É muito comum – ou pelo menos no meu tempo era – rolar aquela pressão no pátio da escola para você ter aquele ítem X ou Y. Nos anos 80, se você não tinha uma mochila emborrachada da Company não era legal nem popular. Já nos anos 90, onde eu estudei, se você não tinha uma calça jeans da Guess tinha gente que nem lembrava da sua existência.
Você tinha que ter um tênis de cadarços coloridos, ou ninguém sentava do seu lado no ônibus da escola. Triste, chato, mas é bem por aí, não adianta. Pressão de turmas de colégio é comum e acredito que nunca vá deixar de existir – hoje em dia acredito que para uma criança não ter um Nintendo DS é o fim de todos os tempos e motivo para muita gozação no recreio. Bom é que os anos vão se passando e a gente vai se livrando de todos esses estigmas, vendo que cada um tem o que quer, usa o que gosta, e nos aproximamos das pessoas porque elas são divertidas, têm bom gosto para música, gostam dos mesmos filmes que a gente… Ou até mesmo são o nosso oposto, e aí podem ser mais interessantes ainda! Quem liga se aquela mulher que trabalha no seu escritório tem uma bolsa Chanel ou não? Ela é hilária quando toma uns golinhos a mais de cerveja e acaba sempre sendo a melhor companhia que você já teve para festinhas.
Quer dizer… Será mesmo que é assim? Toda essa pressão de consumir, de ter algo para ser alguém, parece ter voltado à tona com esse estouro de blogs que a cada dia postam uma “it bag” nova, um vestido “tem que ter”, um sapato “tô muito in love”, um brinco “muito deuso” ou uma calça “pra vida toda” – se o pra vida toda durar cinco minutinhos, até o próximo post. Porque ali a graça é aparecer cada dia com uma peça de roupa nova, sem exercitar a criatividade mas a capacidade de consumo. E o que será que isso faz com quem lê e se influencia por esse tipo de opinião? A Kimberly Cousens, ex-blogueira de moda americana e atualmente jornalista freelance, contou seu lado da história: o que começou com um hábito de comprar aqui ou ali algo que lhe desse a aprovação dos amigos de escola, saiu completamente de controle na época da faculdade, e terminando seus estudos, ela estava tão envolta no universo do consumo que decidiu que queria escrever sobre moda, mesmo tendo conseguido um emprego em sua área, como editora de notícias financeiras, e abriu um blog, que só a fazia comprar mais para acompanhar tantas tendências e lançamentos. O resultado? Com apenas 24 anos suas dívidas ultrapassavam os US$35 mil. A solução foi se desfazer de uma série de luxos: TV a cabo, vestidos de grife e sapatos caros foram vendidos, Kimberly passou a pintar o cabelo em casa, pegou mais trabalhos, parou de ir ao cinema e por fim vendeu seu carro. Em uma matéria ótima ao Huffington Post, Kimberly disse que tudo isso que passou não só a salvou da falência como a transformou em alguém mais sincera, que diz a verdade quando um amigo a chama para sair e ela não pode ou não quer ir.
E é bem por aí mesmo: vidas falsas e vazias não são preenchidas por armários lotados, e sim por pés fincados no chão, curtindo sim as novidades da moda – por que não? – mas sabendo quem somos e até onde podemos ir, de bem com a gente mesmo e com a nossa realidade. Você não é menos incrível porque não tem um sapato da Prada. Nem menos interessante porque não tem grana para comprar um esmalte da Chanel. Até porque um monte de roupa emprestada para fazer propaganda na internet não rende nada além de looks pasteurizados e sem nenhuma personalidade. O que te torna incrível mesmo é a sua criatividade de fazer com esse bololô de informação (e tanta coisa bonita que existe mesmo por aí, outras nem tanto) algo que ninguém jamais pensou. E sem entrar no vermelho. Até porque, né, de que adianta um vestido de renda “tudo na vida” se você acaba sem grana pra mais nada no fim do mês? Quer juntar um dinheiro todo mês para comprar aquela bolsa X que você adora quando for viajar? Faça isso! Mas porque você quer, e não porque essa bolsa vai te transformar em alguém melhor. Porque não vai, simples assim.
“Penso muito mais aintes de comprar, e sou muito menos capaz de comprar uma bolsa ou um casaco que não combinem com quase tudo que eu tenho no armário. Claro que meu coração ainda bate forte quando passo pela vitrine da Bloomingdale’s e vejo as bolsas novas da temporada. Se eu pudesse comprar uma, compraria, mas não posso. E finalmente me sinto confortável dizendo isso”, termina Kimberly. Uma voz sã no meio de tanta alienação.
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