domingo, 16 de junho de 2013

Rejeição / Chico Garcia



Por que insistimos em gostar de quem não gosta da gente? Talvez seja pela nossa necessidade de autoafirmação, de ser desafiado como todo ser humano, na eterna busca pelo improvável. Dizem por aí que as mulheres gostam de um desprezo. Discordo. Mulheres gostam de carinho e esse certo masoquismo emocional não é exclusividade das fêmeas. Eles também adoram uma negação. Estimula a sedução.

Todos nós já tivemos um amor bandido, aquela paixão por quem não nos merece. Uma incrédula submissão, de um jeito que nosso próprio espelho desconhece. E por que continuamos tentando, mandando aquelas mensagens na madrugada? Sei lá, maldito coração, ele escolhe errado e o corpo padece.

Aquele carinha bonitinho é tão carinhoso, me elogia no facebook, me dá “Bom dia” todas as manhãs. Qual é o meu problema? Fico pensando naquele idiota que ignora meus torpedos, meus olhares. Babaca, estava com aquela barba por fazer, ontem à noite, na aula. Tão irritante aquela camisa xadrez que destaca seus olhos castanho-esverdeados. Que raiva! Um jeito arrogante que me derrete e eu fico aqui, perseguindo seu rastro na internet. Passa das duas da manhã e eu já perdi a conta de quantas vezes olhei essa foto dele sem camisa. Depois acordo com ódio de mim mesma por ter sonhado com ele. Saco!

Certa vez alguém disse: “manda na relação quem se importa menos”. Será verdade? Não falo daquele equilíbrio do amor verdadeiro, em que as ações não são calculadas. Nesse caso, a mulher não contabiliza as flores não dadas, os beijos sonegados, ou as carícias distribuídas. O homem não se preocupa se ela demora pra responder seus telefonemas, ou se chega mais tarde após a happy hour com as amigas. A saudade não significa desespero e o ciúme se torna um objeto estranho ao casal. Falo daquele momento da descoberta do outro, do começo de tudo, onde a conquista domina as horas do nosso dia.

No início da relação a dois, sempre tem um que toma a iniciativa, que aciona o cupido, que busca a sua felicidade e espera que ela combine com a da pessoa desejada. Mesmo quando o amor está surgindo e é correspondido, há uma força maior para que a união aconteça e, nesse caso específico, o perseguido, ou a pessoa conquistada, sempre estará um passo à frente. Ela terá o rumo da história, poderá decidir a frequência dos encontros e o tamanho do compromisso. Tudo isso está em duas mãos, não em quatro. A outra boca aguarda a hora certa para beijar e espera pelas respostas ausentes. 

São aquelas leis indestrutíveis da vida amorosa. O rejeitado corre atrás de quem despreza. Depois de um tempo desiste e o outro percebe a falta que lhe faziam aqueles cuidados diários. O jogo vira, a vida dá voltas e, por vezes, o sentimento inexiste, é sucumbido apenas pelo orgulho de não admitir uma rejeição. Pior de tudo é que não existe solução pra isso. A fórmula do amor é complexa, contém ingredientes insanos e nunca sabemos se é a dose certa. O jeito é experimentar, viver, tentar, amar, sofrer e se entregar. No final, sempre terá valido a pena. Ou é amor, ou foi lição . 

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